16 abr Motocicletas e pedestres disputam espaço entre carros
Postado em 14:00h
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De um lado, o comodismo do pedestre, que atravessa fora da faixa. De outro, a imprudência apressada dos motociclistas. Junte-se a isso a explosão de venda de motos na cidade, e o risco de um atropelamento está formado. O perigo é maior nos horários de rush, quando o trânsito para e a vontade de chegar ao destino é grande. Há pontos no Rio, como em frente ao Hospital Miguel Couto, na Rua Mário Ribeiro, na Gávea, onde a presença de um sinal a poucos metros não inibe a conduta errada de quem quer passar para o outro lado da rua. Nem a presença constante da Guarda Municipal neste trecho, que ali mantém sua inspetoria, impede que as motos circulem livremente entre os carros, às vezes, em alta velocidade.
Nesta corrida caótica, quem perde, geralmente, é o pedestre, o lado mais fraco da disputa por espaço e tempo nas pistas. O problema se torna complexo porque faltam mecanismos de punição tanto do pedestre quanto do motociclista nesta situação. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), como informa o Denatran, não prevê motos circulando entre os carros, e apenas recomenda que elas sejam conduzidas pela direita da pista de rolamento, de preferência no centro da faixa mais à direita. Quanto aos pedestres, o CTB estabelece multa de R$ 53,20 para os que atravessam fora da faixa. Mas a penalidade não é aplicada em nenhum lugar do país, segundo o Denatran.
E o perigo é real: em cinco dias – de domingo a quinta-feira da semana passada -, a Associação de Motociclistas do Estado do Rio (AMO-RJ) contou 18 atropelamentos por motos de pedestres que andavam fora da faixa, em toda a Região Metropolitana. Destes, 11 ocorreram em frente à Central do Brasil, onde dois sinais de trânsito foram removidos mês passado pela Secretaria municipal de Transportes. Não há estatísticas oficiais e atuais sobre atropelamentos por motos no Rio.
Na tarde da última quarta-feira, pacientes, visitantes e funcionários do Miguel Couto iam de um lado para o outro em frente à unidade em meio aos carros e às motos, que não param nem com o congestionamento. Alguns motociclistas buzinavam, outros passavam sem reduzir a velocidade. A faixa de pedestres fica a cerca de 60 metros dali.
– Sempre olho para os lados (para atravessar). Fico com medo, mas tenho pressa – disse a gerente Mônica Dias antes de atravessar correndo entre os carros.
Cláudio Santos agiu igual, mesmo sendo motociclista. Ele mal olhou para os lados ao atravessar perto do Miguel Couto:
– A gente deveria andar na faixa, mas na prática não é assim, porque o trânsito é muito pesado. E imagine se as motos passarem a ocupar o mesmo espaço dos carros nas ruas? Aí que o trânsito não vai andar mais – justifica.
Mas comportamentos assim podem matar. O caso mais emblemático é o do guitarrista Marcelo Fromer, dos Titãs, que morreu após ser atropelado em São Paulo, no dia 11 de junho de 2001, quando atravessava a Avenida Europa. O motoboy trafegava pela faixa central da pista, com faróis apagados, e Fromer seguia fora da faixa de pedestres.
Vítimas contam que não viram motocicleta se aproximando
A atenção nem sempre é o bastante para livrar um pedestre de ser atropelado por uma moto enquanto atravessa a rua. Vítimas de acidentes deste tipo contam que olharam para os lados, mas não viram o veículo se aproximando.
A promotora de Justiça Sandra Ban, atropelada na Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa, próximo ao Parque da Catacumba, lembra que foi tudo muito rápido, e que a moto surgiu de repente. O acidente ocorreu há pouco mais de um ano:
– Tinha acabado de visitar uma amiga. O trânsito da avenida estava parado, e fui atravessar, tranquilamente, para o outro lado. Eu realmente olhei para os lados, e não vi nada. Mas, de repente, uma moto me jogou para o alto. Caí de costas, bati com a cabeça e tive um leve apagão. A amiga que estava comigo achou que eu havia morrido – conta Sandra, que, com medo, não quis ter contato com o motociclista e sair logo do lugar.
Ela passou a ter cautela:
– Depois disso, passei a atravessar somente na faixa e aprendi a não confiar no trânsito parado. O que aconteceu triplicou o meu medo e atenção. Eu arrisquei, porque achava que não tinha outra opção. E os motoqueiros também não costumam ser cautelosos.
O estudante Leonardo Soares, de 17 anos, também se arriscou e, por pouco, não sofreu consequências graves:
– Fui atravessar a Avenida 24 de Maio (no Méier), fora da faixa, com o trânsito engarrafado. Onde eu atravessava tinha um ônibus; não consegui ver que uma moto vinha pelo corredor. Fui atropelado e caí em cima da moto, que quebrou. O motociclista ainda queria que eu pagasse o prejuízo – conta Leonardo, que não se machucou.
O caso foi em dezembro do ano passado, num dia em que Leonardo, morador do Recreio, ia para a casa da namorada, no Méier. Ele confessa que continua atravessando fora da faixa, no mesmo ponto da avenida.
– Depois disso passei a prestar mais atenção. Naquele dia, em vez de botar a cabeça e olhar para o corredor, eu fui com o corpo. Mas acho que é um risco as motos circularem pelos corredores.
Em 5 anos, mais 70% de motos no Rio
Os acidentes com motociclistas na cidade crescem à medida que mais motos circulam pelas ruas. Pelos dados do Detran, a frota aumentou 70% nos últimos cinco anos, chegando a 232.684 motocicletas no último mês. Segundo o presidente da Associação de Motociclistas do estado, Aloísio Cesar Braz, de 10 de abril de 2010 a 10 de abril de 2011, foram 1.634 acidentes com motos no Grande Rio. Já no mesmo período entre 2011 e 2012, o número pulou para 2.386 – um crescimento de 46%. Desses, 416 (17%) foram atropelamentos, em diferentes situações. Em 2011, o Seguro DPVAT (seguro obrigatório de veículos) pagou 161 indenizações por morte de pedestres em acidentes com moto no estado do Rio. Em 2010, foram 152.
A Guarda Municipal aplica às motos, neste caso, o artigo 193 do CTB, que considera infração gravíssima transitar com veículo em marca de canalização e divisores de pista, e o artigo 170, que também considera gravíssimo dirigir ameaçando pedestres que estejam atravessando via pública.
– Não existe lei que proíba. Tentaram, mas interferimos. Impedir o corredor é acabar com a mobilidade da moto e do trânsito – defende Braz.
– Já existe no inconsciente coletivo que a moto anda em cima da faixa (contínua) – diz o presidente da Federação de Motoclubes do Estado, Carlos Ferreira, que sugere a criação de vias exclusivas, começando pela Praça da Bandeira.
Presidente da ONG Trânsito Amigo, Fernando Diniz pondera:
– Não é porque o trânsito está parado que a motocicleta tem que permanecer a 80 km/h. A moto tem que vir de forma lenta, poque certamente tem pedestre atravessando de forma errada.
Com informações da Agência Globo