Mobilidade urbana: confira os principais projetos que entram e saem de discussão em Florianópolis

Imagine que as ideias para melhorar a mobilidade urbana na Grande Florianópolis sejam peças de um grande quebra-cabeças.

Leve em consideração que há pelo menos três projetistas: União, Estado e prefeituras. Agora, a pergunta: será que as obras, caso realmente saiam do papel, vão se encaixar? Os especialistas têm motivos para acreditar que não.

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O DC reuniu nove grandes ideias que entram e saem de discussão. Nem levou em consideração obras menores, como a Beira-Mar Continental, na Capital, prevista para 2008, hoje sem prazo para ser inaugurada.

De todas as ideias, apenas o Contorno Viário da BR-101 tem projeto executivo, um passo antes da obra. Mas ele era previsto junto com a duplicação da BR-101 Norte.

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E é pelos prazos e pela falta de continuidade política que o quebra-cabeças fica mais difícil de ser montado.

Questionado sobre qual seria a melhor ideia para a ligação Ilha-Continente, se uma ponte ou túnel, o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil de Santa Catarina (IAB), Edson Cattoni, voltou um ano no tempo para mostrar a falta de planejamento.

Na época, Luiz Henrique da Silveira, então governador, anunciou o metrô de superfície, enquanto o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, falava em túnel submerso. Agora, Raimundo Colombo anunciou priorizar a quarta ligação. Não falou em metrô de superfície, mas em ponte ou túnel submerso.

— Entra governo, sai governo, cada um tem uma bandeira para se promover, tanto no Estado quanto nos municípios. Então, são feitos anúncios, com prazos que não se cumprem. Tinha até um vídeo de um metrô de superfície passando pela Hercílio Luz —recorda Cattoni.

E o metrô de superfície voltou à tona após uma briga judicial em relação à licitação lançada no governo Luiz Henrique. Para os especialistas, o debate está torto. O primeiro passo seria um estudo de Origem-Destino da região metropolitana.

Só a Capital, São José, Palhoça e Biguaçu contam com mais de 800 mil moradores segundo o Censo 2010. Com base nesses dados, as melhores soluções seriam pensadas.

— O que interessa não está sendo feito. Estamos na UTI e não temos diagnóstico. Estudar cada projeto separado é um desperdício de dinheiro público — diz o professor de arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Grupo de Estudos da Mobilidade Urbana Sustentável (Gmurb), Lino Peres.

Para o professor, a ponte entre a Beira-Mar Norte e a Continental é um exemplo da falta de estudos. O fluxo de veículos seria jogado na Beira-Mar Norte, que já tem problemas sérios de congestionamento. A ideia da fonte de financiamento — a venda dos aterros para a iniciativa privada — parece equivocada, na visão de Peres.

A prioridade também teria que mudar. Já está na hora, apontam os especialistas, de levar a sério o transporte de massa. Dizem que não dá mais para ficar abrindo estradas para os carros, ainda mais em uma região rodeada por morros e com um ecossistema frágil.

Aos poucos começa a aparecer nas discussões o Bus Rapid Transit (BRT), tecnologia que está sendo projetada para algumas cidades-sede da Copa 2014.

— O BRT é um sistema que usa ônibus com faixas exclusivas, estações que agilizam o embarque e desembarque e tecnologia informatizada. Na medida que ele se aproxima de um cruzamento, por exemplo, o semáforo abre. E, acima de tudo, é mais barato —diz o professor do Departamento de Automação e Sistemas da UFSC e especialista em Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS) Werner Kraus Junior.

Junto com o transporte de massa, deveria ser pensado um espaço para os pedestres. Nos discursos, as medidas aparecem. Na prática, a situação é outra.

O elevado Rita Maria, que está sendo construído no Centro da cidade, acabou com uma faixa de segurança. Na SC-401, um outro elevado está em obras, uma das primeiras medidas foi destruir a passarela de pedestres.

Se hoje o pedestre, a peça mais frágil na mobilidade urbana, não é respeitado, como pensar em construir e montar um quebra-cabeças gigante?

Fonte: Diário Catarinense.