Cores sóbrias predominam entre os carros brasileiros

Na próxima vez em que circular de carro, repare no inevitável cenário – os veículos são predominantemente das cores prata, preto, cinza e branco.

Oito em cada dez carros saem pintados das montadoras e trafegam pelas ruas brasileiras com alguma destas cores. A cor prata é a preferida de 33% dos brasileiros, seguida do preto (25%), do cinza (14%) e do branco (10%).

“Apesar de o Brasil ser um país tropical, de cores quentes e vivas, o que aconteceu desde os anos 2000 é um afunilamento da preferência por cores mais sóbrias”, diz o especialista em cores para carros Antonio Carlos de Oliveira.

Diretor da divisão DuPont Automotive Systems na América Latina, a maior fornecedora de tintas automotivas, Oliveira explica que determinadas características regionais explicam diferenças das cores.

Na Rússia, o verde é a segunda cor mais preferida. Há um certo mistério sobre essa escolha, mas locais frios, paradoxalmente, têm cores mais vivas – uma forma de chamar atenção em meio à cenário que vivem cobertos por neve.

Nos Estados Unidos, o branco, a cor preferida, está associada à sinais de riqueza. Mas no Brasil, principalmente pela grande frota de carros de São Paulo, o branco é a cor dos táxis, o que elimina parte dos vínculos com grandes fortunas.

Desde 1952, a americana DuPont realiza uma pesquisa sobre as cores mais populares de carros – o levantamento é realizado no Brasil há 30 anos. A pesquisa inclui informações dos fabricantes de veículos, licenciamento de carros e os dados de vendas de tintas além da análise da própria empresa.

Um em cada dois carros produzidos no Brasil – cerca de 1,5 milhão – utiliza tintas produzidas pela empresa americana. A fábrica brasileira fica em Guarulhos, na Grande São Paulo. A empresa fornece para todas as montadoras, exceto as francesas Renault e Peugeot.

A cada dois anos, as fabricantes normalmente renovam seu leque de cores, embora haja apenas uma ligeira mudança nos tons das principais cores.

O resultado do Brasil segue a mesma preferência mundial, que se traduz em 77% dos carros produzidos neste arco-íris de tons pálidos.

Vestir-se como os carros

Inúmeros fatores explicam a preferência por cores pouco vivas. As tendências de cores nos carros seguem o que os estilistas internacionais ditam à moda. “As pessoas gostam de se vestir como os carros”, diz o executivo da DuPont.

Nas principais passarelas da moda, seja em Paris, Roma ou Nova York, técnicos da DuPont estudam as principais tendência que indicarão em três a cinco anos as próximas famílias de cores que vão estampar as latarias dos carros.

A opinião das mulheres pesa na escolha da cor dos carros. “Enquanto os homens querem saber a potência do motor, elas opinam sobre as cores dos carros”, diz.

Preferência das cores

A partir dos anos 2000, houve uma predomínio do prata. Segundo Oliveira, a entrada no novo milênio acabou fazendo surgir temas futuristas, introduzindo aspectos de modernidade. “Foi o que se viu no uso de aço escovado e produtos metalizados”, explica.

Mesmo hoje nem tudo o que é prata, definitivamente, reluz como prata puro. Segundo Oliveira, há uma tendência dos carros saírem das montadoras prateados com tons de azuis, verdes, vermelhos e até amarelos, que ampliam a família do prata.

A cor preta também ganhou espaço. Mais recentemente, muitas famílias brasileiras passaram a ter seu primeiro carro, conferindo um sinal de ascensão social que a cor representa.

Como dizia Henry Ford, fabricante do modelo T, o popular Ford de Bigode, que popularizou a disseminação do carro nos EUA: “o veículo é disponível em qualquer cor, contanto que seja preto.”

Mas o preto não é o campeão no Brasil. “Tem o problema de que é uma cor que esquenta num País que faz calor como o nosso”, conta Oliveira. “Quando se liga o ar condicionado do carro, se leva mais tempo para ser resfriado”, diz.

Antonio Carlos de Oliveira afirma que as cores mais populares no Brasil possuem também um aspecto financeiro. “É um fator adicional relacionado ao valor de revenda do veículo”, explica.

Embora as empresas consigam fazer o conserto de arranhões nas cores originais, seja quais forem, há a percepção de que as cores mais populares sejam fáceis de serem reparadas.

Pouca gente se arriscaria a comprar um carro de cor de abóbora ou rosa, que desvalorizam o preço do carro.

Apesar de existir uma tendência crescente de personalização, com sucesso do Mini Cooper, o Fiat 500, o Smart, da Mercedes, e mais recentemente o novo Uno, eles representam ainda uma pequena parcela sobre o total de veículos vendidos.

“É um caro carro, mas quem compra, normalmente quem tem mais de 40 anos, tem um lado lúdico de busca de jovialidade “, diz Oliveira.

Fonte: IG.com