13 maio Adulto que bebe se arrisca mais.
Ao contrário do que se trata como senso comum, os jovens de 18 a 29 anos não estão na faixa etária responsável pelo maior índice de acidentes de trânsito com comprovação de consumo de bebida alcoólica. No Brasil, adultos com idades entre 30 e 59 anos foram flagrados com mais frequência com índice de álcool no sangue superior ao previsto por lei (0,2 grama). A quebra do paradigma se deve à pesquisa do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira e do Centro de Prevenção de Depen-dências (CPD), de Recife, patrocinada pelo Ministério da Saúde. No estudo, foram analisadas seis capitais: Curitiba, São Paulo, Brasília, Manaus, Fortaleza e Recife.
Os dados globais contrastam com os da capital paranaense, onde 39% dos acidentes com comprovação do uso de álcool foram causados por jovens. “Essa faixa etária mais velha ser flagrada com mais frequência no resto do país me surpreende. Não é o que habitualmente vemos nos pronto-socorros. Em geral, a associação de direção com bebida ou drogas é mais comum entre os mais jovens”, argumenta o chefe do Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador de Curitiba, Rached Traya. Uma das conclusões do estudo é que pessoas embriagadas têm cinco vezes mais chances de morrer no trânsito do que quem não ingere bebidas alcoólicas.
Em Curitiba, chama a atenção o alto índice de acidentes envolvendo motos e álcool. De acordo com o estudo, 50% das vítimas de acidentes levadas a hospitais ou ao Instituto Médico-Legal são motociclistas ou quem está na garupa. “Como a moto é um veículo mais vulnerável, o motociclista se machuca mais. Além da colisão, há o impacto com o chão”, explica a médica do Siate Mônica Fiuza Parolin.
Na avaliação dela, acidentes envolvendo motos já podem ser taxados de epidemia. “O motoqueiro, como em geral precisa fazer seu trabalho em pouco tempo, acaba sendo mais imprudente”, diz. Coordenadora geral da pesquisa e vice-presidente do CPD, Ana Glória Melcop considera as entregas rápidas como causa do elevado índice de ocorrências com motos. “Eles são cobrados pelas empresas e pela sociedade para que a mercadoria chegue rápido. É preciso mobilizar a sociedade e as empresas de delivery para que a exigência diminua”, diz.
Constatações
O estudo faz ainda ma série de constatações já conhecidas por aqueles que convivem com a violência do trânsito. Em sua maioria, as vítimas de acidentes com comprovação de uso de álcool são homens em 86% dos casos. E, quanto maior a proximidade com o fim de semana, maior a possibilidade de uma ocorrência de trânsito. Em 44% dos acidentes registrados no domingo, houve comprovação da presença de álcool no sangue. Na sexta-feira e no sábado, os índices são respectivamente de 22% e de 34%, bem superiores a média de 11% encontrada na terça-feira.
Ana Glória ressalta que a elaboração da Lei Seca, em 2008, deve ser comemorada porque criou uma nova realidade sobre a associação álcool e direção. “Em uma pesquisa, há dez anos, constatou-se que 72% dos motoristas envolvidos em acidentes estavam alcoolizados”, analisa. De acordo com a pesquisa, na comparação do período de 12 meses após a elaboração da Lei Seca, houve queda de 6,2% nos acidentes.
Pedestres
A coordenadora alerta para a necessidade de as campanhas de trânsito se estenderem a pedestres e ciclistas. “É preciso atingir essa classe, levando em conta o nível de escolaridade dessas pessoas”, diz. De acordo com a pesquisa, constata-se que pedestres vítimas de atropelamento e ciclistas envolvidos em acidentes são, em sua maioria, pessoas que não chegaram a cursar o Ensino Médio. “Por isso as campanhas precisam ser criativas”, afirma. Há, ainda, preocupação com pedestres embriagados circulando pelas ruas, já que eles estão na segunda colocação entre o perfil de vítimas de acidentes, atrás dos motociclistas.
Brasil adere a plano para reduzir mortes
Com 66 milhões de veículos, o Brasil ocupa a quinta colocação no ranking de mortes causadas pelo trânsito, somando 35 mil óbitos ao ano. Apenas Índia, China, EUA e Rússia superam os índices do país. Os números levaram o governo federal a aderir ao Plano de Ação da Década de Segurança no Trânsito, lançado ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que almeja reduzir pela metade, até 2020, o número de vítimas de acidentes. A campanha foi lançada mundialmente ontem.
Curitiba é uma das cinco cidades brasileiras (ao lado de Belo Horizonte-MG, Campo Grande-MS, Palmas-TO e Terezina-PI) a implantar o projeto Vida no Trânsito. Para marcar o início do programa, o Jardim Botânico recebeu uma iluminação diferente ontem na cor amarela. O mesmo ocorreu com o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
Membro da Comissão Municipal Intersetorial de Segurança Viária e coordenadora de Diagnós¬tico em Saúde da Secretaria da Saúde de Curitiba, Vera Lídia Oliveira afirma que a ação se inicia com a busca por estatísticas confiáveis sobre o trânsito. Também foram estabelecidos cinco aspectos prioritários a serem combatidos por um trânsito mais seguro. Por ordem de importância, são eles: motociclistas, jovens condutores (pessoas que acabaram de tirar a carteira ou jovens entre 18 e 21 anos), velocidade, álcool e pedestres. “O grupo intersetorial constituído já realizou planejamento considerando esses cinco fatores sob o ponto de vista da educação, fiscalização e engenharia”, diz Vera Lídia.
Dados do Ministério da Saúde mostram que a cada 100 mil brasileiros, 76,5 foram internados em 2010 em decorrência de acidentes no trânsito. As quase 146 mil internações de vítimas das ocorrências financiadas pelo Sistema Único de Saúde custaram aproximadamente R$ 187 milhões.
Fonte: Gazeta do Povo